segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Aquela caminhada de 100 metros que fizeste é bem melhor do que a corrida de 10 km que não chegaste a fazer


Termino o ano com uma reflexão. Quem me conhece sabe que não costumo gostar daquelas frases inspiradoras com fundo do pôr-do-sol que enchem as redes sociais, mas há uns tempos vi uma no Facebook que não me tem saído da cabeça. Era mais ou menos como o título do post, pelo menos a ideia era essa.

Aquela caminhada de 100 metros que fizeste é bem melhor 
do que a corrida de 10 km que não chegaste a fazer

Esta frase diz-me muito porque nos relembra de apreciar as conquistas do dia-a-dia, por mais pequenas e (aparentemente) insignificantes que sejam. Porque ajuda a combater o perfeccionismo - que às vezes é uma qualidade mas também pode causar muita angústia. Porque nos ajuda a sermos mais generosos para connosco mesmos, em vez de nos focarmos nas coisas em que falhámos, nos objetivos não atingidos. E sobretudo porque é verdade! Cada passinho que damos na direção dos nossos sonhos e objetivos é melhor do que os cenários perfeitos da nossa imaginação.

Já para não falar da mentalidade do "perdido por cem, perdido por mil"...

Queremos limpar a casa mas só temos dez minutos. Pensamos então que nem vale a pena começar porque não vai dar para fazer nada, mas em dez minutos podemos limpar o pó ou aspirar ou limpar o chuveiro… dando assim um passo em direção do nosso objetivo.

Queremos fazer exercício mas só temos cinco minutos. Pensamos então que não vale a pena fazer, mas cinco minutos dá para fazer uns abdominais, uns agachamentos, umas flexões. Dá para deixar o coração a bater mais depressa. 

Queremos enviar um email bem escrito, eloquente, perfeito! mas falta-nos o tempo e a inspiração e por isso vamos adiando dia após dia…

Queremos poupar 100€ por mês mas as despesas parecem não terminar e pensamos que nem vale a pena tentar. Mas 5€ poupados são bem melhores do que aqueles 100€ imaginários. 

Os nossos avós já o diziam. Grão a grão enche a galinha o papo. Foi antes das redes sociais, das comparações fáceis e diárias com quem é mais rico, mais giro, mais organizado, mais popular, mais viajado, mais culto… às vezes logo de manhã, antes de sairmos da cama sequer! Foi antes deste tempo em que tanto exigimos de nós mesmos em todas as áreas da vida, sem excepção. Acho que mais do que nunca é preciso parar e apreciar os "grãos" que a vida nos dá, os "grãos" que vamos criando e semeando.

Espero que em 2020 sejam felizes e que celebrem as pequenas conquistas do dia-a-dia, por mais pequenas que sejam.

Bom Ano Novo!

Encontrei aqui


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

E antes de o ano terminar, destralhei


Há vários meses que queria fazer uma limpeza a fundo ao roupeiro. Fazer inventário do que tenho, do que uso, do que não uso, do que faz falta. Desta vez, livrei-me de dois pares de calças de ganga, cintos, camisolas de malha, blusas, vestidos. São coisas que apenas andavam a ocupar espaço no meu roupeiro e que eu não usava ou não gostava de usar. Muitas foram compradas  há anos atrás e por diversos motivos não foram devolvidas - ou deixei passar a data, ou não dei prioridade, ou tentei justificar a compra com o típico "ah e tal mas se comprasse um soutien de modelo X, sapatos de cor X e uns brincos XXL para completar até se faz um modelito disto". Outras peças, "herdei" de amigas mesmo não fazendo bem o meu estilo.


Vão agora ser entregues na Stadsmissionen, uma loja de segunda-mão cujas receitas são dedicadas à ajuda dos sem-abrigo e outras pessoas em estado de vulnerabilidade. A Stadsmissionen está representada pelo país fora e que eu saiba todas as lojas têm "contentores" onde se pode deixar roupa, livros, brinquedos e todo o tipo de artigos para a casa. Temos uma perto de casa e sempre que posso vou lá entregar coisas.

E vocês, andam a destralhar?


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

E livrai-nos de homens de meia-idade que se sentem ameaçados por uma adolescente que quer salvar o mundo, amen


As redes sociais estão cheias deles. Homens de meia-idade (e mulheres também, mas sobretudo homens de acordo com as minhas observações) muito incomodados com a Greta e os seus pais. E porque aquilo é só "show", e os milhões que já ganharam?, e as celebridades que já conheceram?, e a forma especial de a Greta falar, e olha que aquilo é uma conspiração contra a indústria petrolífera, e os pais andam a explorar a miúda! Já para não falar dos comentários feitos por certos presidentes...

As críticas e os ataques assumem contornos muito feios e bizarros às vezes. Há uns dias vi no Facebook uma imagem horrível, de cariz sexual (e consequentemente pedófilo, porque estamos a falar de uma menor de idade) que não me sai da cabeça e que não partilho por não querer contribuir para a sua divulgação. É difícil acreditar que há adultos que falam assim de uma adolescente, que criam e divulgam imagens dessas. De uma adolescente que anda a sensibilizar o mundo para a crise ambiental. É a porta-voz de uma realidade que não podemos ignorar, independentemente do que se ache da forma de se exprimir (aproveito para relembrar, quanto a isto, que a Greta tem síndrome de Asperger, que causa transtornos nas interacções sociais), independentemente do que se ache dos pais dela.

Meus caros, se vos incomoda mais a fama da Greta do que o aquecimento global e a extinção de espécies, peço-vos que procurem ajuda. E se a Greta já ficou rica? Deixa ficar. A verdade nua e crua é que a Greta faz mais pelo planeta em 15 minutos do que a maioria de nós durante a vida inteira. E a inveja, a inveja é muito feia. Tenham vergonha na cara. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A primeira neve do ano


A chegada da primeira neve do ano é sempre um alívio para o pessoal. Com a neve e as temperaturas mais baixas, também chega o sol. Chega a luz e a tranquilidade. É sempre especial. Nos últimos dias a temperatura tem oscilado entre os -1 e os -5 graus, o que é perfeito porque a neve não derrete e o ar está fresquinho mas ainda não faz demasiado frio.





Ginásio ao ar livre em Årstaviksskogen (floresta de Årstavik), Estocolmo



Post agendado

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

E então essa Black Friday?


A Black Friday já lá foi e eu estou feliz por a vida voltar ao normal. [O normal =  receber diariamente 537 emails de promoções por dia em vez dos 75606937 emails recebidos durante esta época.]

Estou aliviada, mas isso não quer dizer que não tenha aproveitado as promoções. Tenho amigos no Facebook que andam a fazer "campanha" de boicote à Black Friday já desde Outubro. E embora eu apoie a 100% a ideia de reduzir o consumo desnecessário, não entendo o conceito de boicotar algo apenas porque sim. Na minha opinião, a Black Friday é o que fazemos dela. Não é em si mesma "boa" ou "má".

Eu não sou uma pessoa particularmente organizada ou paciente... excepto no que diz respeito ao consumo. Talvez por já em adulta ter sido estudante full-time (e o que isso implica a nível financeiro), eu mudei a minha forma de consumir. Normalmente compro roupa, sapatos, cosméticos, artigos para a casa, artigos tecnológicos, brinquedos etc em promoção e apenas após comparar preços. Tenho uma lista de compras e espero por promoções, nem digo saldos porque com o estado do comércio e das compras online na Suécia, há "saldos" o ano inteiro… Sei que normalmente é uma questão de paciência (e de uma semana ou duas) até receber o tal email que anuncia descontos nas coisas que pretendo comprar.

Por exemplo, eu gosto dos produtos de banho da Yves Rocher e sei que eles têm promoções pelo menos uma vez por mês. Como fiz prenumeração da newsletter, recebo email a notificar-me. Faço então questão de aproveitar quando necessário e de comprar logo várias unidades, não só para poupar dinheiro mas também para poupar o meio-ambiente (quantos menos transportes, melhor). Sim, os armários cá de casa estão cheios, mas por outro lado é raro chegar ao ponto em que o gel-de-banho está a acabar e tenho de comprar à pressa (mais caro) no supermercado.

Cheirinho de alfazema e amora, eu até podia viver sem ele mas não seria a mesma coisa
É claro que nem sempre é possível planear, a vida acontece (e além disso aquilo que queremos nem sempre  leva desconto) mas eu tento ser o mais regrada possível. 

Não vejo a Black Friday como um convite a comprar coisas que não vou usar ou apenas comprar por comprar. Para mim, é mais uma oportunidade para comprar coisas que estão na minha tal lista de compras - as quais inevitavelmente iria comprar na mesma, com ou sem desconto. Este ano, comprei presentes de Natal, uma camisola de malha, uma blusa branca para o regresso ao trabalho, dois soutiens (aleluia), um guarda-chuva (!) e os cremes da Luisinha (aqui até as farmácias aderem à Black Friday). 

E vocês, que me dizem da Black Friday?

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Aviso à navegação: mudei de endereço!


O novo endereço URL do blog é abonecadeve.blogspot.com

Não sei bem como isto funciona, e se quem segue o meu blog pelo endereço antigo ainda vem cá parar. Espero que sim. Gosto muito de vocês, beijinhos a tod@s.

domingo, 24 de novembro de 2019

Ser mãe na Suécia #1


"Então Joana, ainda não começaste a trepar às paredes?"

Estou em licença de maternidade há dez meses. Durante a gravidez, perguntei a mim como iria ser estar em casa "durante tanto tempo". E houve quem me tenha perguntado se iria aguentar. Eu calculei que o mais provável era arranjar um hobby novo, ler livros, voltar a escrever no blog com regularidade! Mas na verdade...

Os nossos dias passam a voar
A licença de maternidade tem sido muito diferente do que eu imaginava. Às vezes quero rir-me quando me lembro da minha ilusão de arranjar um hobby novo. Os nossos dias passam a voar! Sim, mesmo os dias que passamos em casa. Entre papas, brincadeiras, leituras, mudas de fralda, sestas, caminhadas e playdates com mamãs e bebés, dou por mim a olhar para o relógio e já é hora de adiantar o jantar.


O YouTube e o Netflix são amigos
Não, ainda não arranjei tempo para ler livros tal como esperava. No entanto, tenho "ouvisto" bastantes documentários. Enquanto a Luisinha dorme na sua cama, eu ouço documentários com os phones do telemóvel enquanto faço coisas pela casa fora. Os últimos foram um documentário sobre a Rainha Maria da Escócia e um sobre a vida da mãe de Shakespeare, no YouTube (não me perguntem porquê, basta darem-me coisas Britânicas, sobretudo sobre história, e não descolo do ecrã). Também vi/ouvi vários sobre a Segunda Guerra Mundial (esteeste e este) no Netflix. 

Não somos mais que as mães (tecnicamente), mas somos muitas mães (e pais)
Sim, a licença de maternidade é longa, mas isso também significa que há muita gente na mesma situação! Na era das redes sociais, isso significa que só no Facebook há montes de grupos de mães, muitos deles locais e dedicados a conhecer outras mães e a criar encontros. Eu faço parte de um grupo de mães internacionais e todas as semanas nos reunimos para tomar café. Faço parte de um grupo de mães da minha vizinhança e todas as semanas há uma caminhada. Faço parte de um terceiro grupo, esse criado pelo centro de saúde infantil (barnavårdcentralen ou BVC), que agrupa mamãs de acordo com o mês de nascimento das suas crias. Há mais grupos, mas os que mencionei são os mais activos. E também conheci gente já durante a gravidez, com a qual ainda convivo. Entre cafés, almoços, passeios, visitas a museus etc, não falta o que fazer, pelo menos em Estocolmo (não posso falar por quem vive em meios mais rurais).  

A öppna förskolan
Em todo o lado há uma öppna förskola, que são pequenos centros de actividades para bebés. É gratuito e não é preciso inscrição. Algumas são geridas pelo município, outras pela paróquia. Normalmente há café para os papás e brinquedos para os bebés, que convivem numa manta/colchão XXL no chão.  Há o sångstund (momento musical), em que toda a gente se senta em círculo no chão e canta musiquinhas infantis. 


A Luisinha na öppna förskolan

...E outras actividades
Algumas bibliotecas e museus também organizam eventos para bebés. Há uns tempos fui a um evento de dança Africana para bebés, organizado pelo Dansmuseet (Museu da Dança). Quem dançou foram os paizinhos de bebés nos braços, claro, foi um bom exercício. Em breve vamos a uma peça de teatro para bebés. Ópera para bebés e cinema para bebés (barnvagnsbio)  também há e havemos de ir. Mais uma vez, não posso falar por quem vive em meios mais rurais, mas em Estocolmo não falta o que fazer. 

A acessibilidade
Algo que realmente aprecio na Suécia é a acessibilidade. As ruas e os edifícios estão adaptados a quem anda de cadeira de rodas e, obviamente, a quem anda de carrinho de bebé. Os passeios são largos e normalmente estão em muito bom estado. Há rampas e, se necessário, elevadores em todo o lado. As portas são largas, muitas delas têm um sistema de abertura automático, basta carregar num botão. É muito fácil uma pessoa deslocar-se, mesmo com um carrinho de bebé, o que facilita imenso o dia-a-dia.

O resumo

A licença de maternidade tem sido diferente do que imaginava. Tem sido melhor. Eu estou a amar estar em casa com a minha menina. Há dias em que fazemos actividades, e outros em que ficamos a descansar. Há dias melhores e dias piores, claro, mas mesmo nos momentos chatos eu estou grata por cada minuto que posso dedicar-me à Luisinha a tempo inteiro. Para mim, é um privilégio imenso ter a possibilidade de estar em casa com a minha menina durante "tanto tempo". As pessoas dizem-me para aproveitar, que passa tudo a voar. Acreditem em mim quando digo que eu tenho noção disso e que nunca na minha vida estive tão presente no aqui e no agora, a tentar com que os momentos passem devagar... devagarinho... e de preferência que fiquem gravados para sempre.