Isto é mesmo o que parece. Um post sobre suicídio à hora do pequeno-almoço.
Não querendo quebrar as cláusulas de confidencialidade que rodeiam o meu trabalho, gostaria ainda assim de abordar este assunto. Há uns tempos um dos nossos pacientes jovens cometeu suicídio. Ele não avisou. Pelo contrário. Era alegre, sorridente, tinha amigos, boas notas etc. Eu sei, porque poucos dias antes do falecimento tive nas minhas mãos a papelada dele. Não houve aviso. Ninguém estava à espera.
Eu já não posso ajudar este jovem, mas posso falar sobre o assunto convosco aqui no meu canto. Este caso veio lembrar-me que sabemos pouco, muito pouco, sobre as pessoas que nos rodeiam e que tragédias deste género podem acontecer quando menos esperamos, a quem menos esperamos. É importante estar atentos a quem nos rodeia, acabar com o tabu que rodeia estas questões, fazer perguntas, falar, estar atentos a sinais, oferecer uma mão e um abraço.
Este jovem relembrou-me que nem sequer devemos esperar que haja sinais. Deve-se agir de forma preventiva. Fazer perguntas de forma aberta. Explicar aos jovens que é normal ter dias e fases más, às vezes muito más, mas que não precisam de ficar sozinhos com os seus problemas e que não devem ter vergonha de falar com adultos de confiança (pais, familiares, professores e outros) e pedir ajuda. O papel do adulto é estar disponível, receber informação da forma mais calma possível e levar estas questões a sério, não classificar apenas potenciais sinais como "problemas/fases/dramas de adolescentes", como vejo tantas vezes. O papel dos adultos é educar os adolescentes não apenas para as coisas práticas (escola, hobbies, responsabilidades...) mas também para a vida emocional, e pessoalmente acho que esta última parte é muitas vezes descurada, em parte pelas limitações dos próprios pais. E com "educar para a vida emocional" não quero dizer medicar os jovens ao mínimo sinal de problemas, mas sim falar com eles, ensinar-lhes estratégias para cuidarem de si mesmos, da sua vida emocional e para aprenderem a lidar com os seus sentimentos. "É mais fácil dito que feito". Sem dúvida. Mas é tão importante fazer um esforço.
P.S. Não quero, com isto, culpabilizar os pais do jovem. Isso não faria sentido por vários motivos que aqui não posso discutir por motivos de confidencialidade. Falo numa perspectiva geral e colectiva. É preciso falar com os jovens sobre saúde mental.
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Este jovem relembrou-me que nem sequer devemos esperar que haja sinais. Deve-se agir de forma preventiva. Fazer perguntas de forma aberta. Explicar aos jovens que é normal ter dias e fases más, às vezes muito más, mas que não precisam de ficar sozinhos com os seus problemas e que não devem ter vergonha de falar com adultos de confiança (pais, familiares, professores e outros) e pedir ajuda. O papel do adulto é estar disponível, receber informação da forma mais calma possível e levar estas questões a sério, não classificar apenas potenciais sinais como "problemas/fases/dramas de adolescentes", como vejo tantas vezes. O papel dos adultos é educar os adolescentes não apenas para as coisas práticas (escola, hobbies, responsabilidades...) mas também para a vida emocional, e pessoalmente acho que esta última parte é muitas vezes descurada, em parte pelas limitações dos próprios pais. E com "educar para a vida emocional" não quero dizer medicar os jovens ao mínimo sinal de problemas, mas sim falar com eles, ensinar-lhes estratégias para cuidarem de si mesmos, da sua vida emocional e para aprenderem a lidar com os seus sentimentos. "É mais fácil dito que feito". Sem dúvida. Mas é tão importante fazer um esforço.
P.S. Não quero, com isto, culpabilizar os pais do jovem. Isso não faria sentido por vários motivos que aqui não posso discutir por motivos de confidencialidade. Falo numa perspectiva geral e colectiva. É preciso falar com os jovens sobre saúde mental.
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Tal como disseste, nem sempre há avisos. Aquela pessoa que nos aparenta ser alegre etc etc, por dentro pode estar em cacos :/
ResponderEliminarQue triste. E o pior é que está acontecendo muito entre jovens. Realmente, é um quadro muito simples, como você colocou: o estar disponível para o próximo. E, principalmente, os pais estarem disponíveis aos filhos. É, relações vazias, distantes, individualistas...o lema de se respeitar a privacidade e não tocar em certos assuntos de intuito emocional...
ResponderEliminarÉ muito importante falar destas coisas! Parece que se aceita uma certa insensibilidade em relação a esta matéria. É preciso haver acções de sensibilização nas escolas para a saúde mental. Aliás, acho que até devia haver uma ou duas horas todas as semanas e obrigatório para todos os alunos. A adolescência é uma fase muito complicada, e é às vezes nesta fase da vida que se começam a desenvolver algumas lacunas emocionais.
ResponderEliminarOlá Joana,
ResponderEliminarJá algum tempo que me vou perdendo por esta tua página a absorver tudo quanto contas acerca de um país que me fascina. Nunca fui à Suécia, por isso não tenho uma explicação lógica para esta minha paixão.
Decidi comentar este post porque ele me diz muita coisa, e por motivos muito, muito diferentes. Infelizmente a saúde mental não dá votos, não gera riqueza nem capitalismo. Assim, é raro assistirmos a iniciativas que visem a promoção de um bem-estar mental saudável. Portanto, concordo com tudo o que foste escrevendo, é importante promover a saúde mental junto de todos, é importante sensibilizar todos para as emoções, para o quanto conseguimos ser resilientes e em como haverá sempre alguém disponível para acolher as nossas emoções mais negras.
Continuação de um bom trabalho.
Em primeiro lugar um beijinho para ti. Mesmo que seja algo que aconteceu enquanto exercias a tua profissão, pode ter-te abalado. Em segundo lugar acho que este é um post muito importante e que mais pessoas devem falar. Eu vou seguir o teu exemplo, com certeza!
ResponderEliminartens toda a razão...
ResponderEliminaro suicido é um assunto que se devia falar abertamente e não fazermos dele tabu. Não há sinais e nem sempre damos conta. Pensamos sempre - olha aquele é feliz - mas o que mostramos aos outros nem sempre é verdade. Acredito que o teu trabalho não seja fácil, mas agradeço-te :) Pois acredito que faças de tudo para dar a volta e perceber o outro lado.
ResponderEliminarÉ lixado!
ResponderEliminarTrabalhas numa área muito interessante, a saúde mental interessa-me e é algo que respeito muito. Acho que a linha que separa a saúde mental da falta dela é muito tenue.
ResponderEliminarDepressão e pensamentos suicidas são aquelas coisas que a pessoa só sabe quando se encontra naquele estado. Eu era muito preconceituosa com isso, achava que era exagero, frescura, até que eu vim morar nos EUA e as pessoas já tinham suas turminhas e eu me sentia um peixe fora d´água, esquema 13 reasons why. As pessoas que cometem suicídio não querem morrer, só querem acabar com a dor, porém pra ela o único jeito de parar de doer é morrendo de uma vez por todas.
ResponderEliminarObrigada por falar no assunto!
Beijos!
www.vivendolaforanoseua.blogspot.com