quarta-feira, 30 de julho de 2014

A Joana responde #1: então como é a vida na Suécia?


No outro dia aconteceu de novo. Conheci os amigos de um amigo e o tema de conversa foi dar à Suécia. Não se já vos contei, mas a maior vantagem de ser emigrante é ter sempre um tema de conversa garantido em qualquer ocasião social. Um por um fizeram-me as perguntas da praxe sobre a Suécia, às quais eu quase nunca estou preparada para responder assim de repente, mesmo depois de 5 anos de exílio. Resolvi tentar responder a essas perguntas aqui no blogue, que também é para isso que ele serve. Leiam se aguentarem. Se não aguentarem, deixem só um comentário a dizer "és chata mas gostamos de ti na mesma".

#1 Então como é a vida na Suécia?

Uma vez ouvi alguém a responder a essa pergunta com um "a vida na Suécia é igual à vida em qualquer outro sítio" e achei isso ingénuo. Sim, na Suécia também se acorda, também se toma o pequeno-almoço, também se tem dias bons e maus, também se fica doente, também se bate com os dedos dos pés nos cantos dos móveis (do Ikea, é claro)... mas em muitas coisas, a vida na Suécia em pouco ou nada se compara à vida em Portugal. Eu habituei-me a dizer que a vida na Suécia é boa ou má, dependendo daquilo que se valoriza mais. Valorizas igualdade e justiça social, sair cedo do trabalho, ter segurança e apoio do Estado em caso de doença, ter acesso a estudos grátis e a licença de maternidade paga por mais de um ano e esse tipo de coisas? O mais provável é gostares da vida na Suécia. Se por outro lado não te imaginas sem verões quentes, fazer noitadas até às 6 da matina todos os fins-de-semana, fazer jantaradas, passar os dias na praia a beber Minis (Radler para mim!), falar à vontade com vizinhos e estranhos e estar com a família e os amigos de sempre, estás melhor em Portugal. Não quer dizer que não se possa valorizar todas estas coisas, mas acho que regra geral todos valorizamos mais umas ou outras e ir para a Suécia ou ficar em Portugal costuma implicar sacrificar um lado ou o outro. Já conheci quem tenha emigrado para a Suécia "simplesmente" por sentir que não ganhava tanto quanto devia e que não era valorizado no local de trabalho. Também já conheci quem se recuse a emigrar "simplesmente" por não se imaginar a não estar com a mãe todos os dias. Todos estes motivos são válidos, acho que o problema começa quando tentamos ignorar as coisas que realmente são essenciais para nós.
Aos 20 anos, quando fui para a Suécia, estas coisas não me passaram pela cabeça. Tinha acabado de terminar o namoro com o meu primeiro grande amor e concluído a minha licenciatura, queria ter a experiência de viver no estrangeiro e estava ansiosa por ser independente. Acho que passei mais tempo a fazer a mala do que a pensar sobre a minha decisão. Se me confrontasse com a mesma opção hoje em dia, se calhar a minha decisão teria sido diferente porque me conheço melhor, o que implica saber quais são os meus "essenciais".

A minha opinião pessoal é aquilo que escrevi lá acima: a vida na Suécia é boa ou má, dependendo daquilo que procuramos. Há pessoas que nunca seriam felizes na Suécia, apesar de em teoria a Suécia ser um excelente sítio para viver. Estou a lembrar-me de uma espanhola com quem partilhei casa. Detestava a Suécia com todas as suas forças porque os cocktails custavam quase 20 ouros, porque a disco fechava às 2 da manhã, porque na Espanha estavam 22 graus e na Suécia estavam -5 e porque a comida era cara. (Enquanto isso eu andava encantada com o facto de poder estudar sueco sem pagar e com as pessoas, que punham casinhas e comida para os pássaros nos seus jardins). Talvez pareçam ninharias, mas a verdade é que a espanhola nunca se adaptou à Suécia. Hoje vive na Espanha e está muito feliz. Tenho outra amiga que nunca se deu bem com os homens suecos porque não lhe pagavam a bebida nos encontros, o que ela interpretava como desinteresse (uma diferença cultural por dia, nem sabe o bem que lhe fazia). Por outro lado, também há pessoas que nunca seriam felizes em Portugal (nem na Espanha, já agora) por causa de coisas como o preço exorbitante da electricidade, a corrupção e o calor. Como diz o outro, gostos não se discutem...

28 comentários:

  1. Joana, adorei essa tag e que vc pretenda escrever mais sobre o tema. Me interessei muitíssimo, ainda mais pelo fato de pretender imigrar algum dia. Por favor, continue :)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Lol! Uma coisa é visitar, outra é viver...e esta última tem muito que se lhe diga, sobretudo a adaptação cultural. Vou continuar a ler muito atentamente os teus 'reports'

    ResponderEliminar
  3. Isso aplica-se a todos os países porque se tu já vais com uma certa ideia, então nem vale a pena! Como eu digo, quem vai para fora pode ser dividido em dois grupos: os que vão para viver e os que vão para sobreviver.

    ResponderEliminar
  4. Eu concordo contigo, Joana. Depende muito das suas necessidades. Quando falo que sou carioca o povo pergunta: Mas sendo se uma cidade tão linda o que estás fazendo aqui em UK? O que adianta calor, beleza, sem infra-estrutura e segurança? Muitos não entendem adoro o Brasil e amo UK e no momento vou ficando por aqui, já o futuro só Deus sabe, ne?

    Beijo

    ResponderEliminar
  5. Óptimo post, e tens razão, todos os sítios podem ser maus ou bons, dependendo daquilo que nos faz mais falta. Por isso também é importante passar um tempo fora, numa cultura diferente para nos conhecermos e sabermos o que queremos. E essas "ninharias" de que falas, é bem verdade, pequenas coisas que marcam a diferença na nossa vida. Pior é aquele impasse de não se estar bem nem num sítio nem no outro. Bom, mas há sempre mais mundo, suponho...

    Beijoca :)

    ResponderEliminar
  6. Que giro!
    Óptimo guia de prós e contras na hora de se tomar uma decisão! Aposto que vais ajudar algumas pessoas que neste momento pensam em sair do seu país!
    Anseio pelo próximo post! :)))

    ResponderEliminar
  7. Concordo tanto com este teu texto! Estou tentada a decorar o texto e substituir Suecia por Holanda sempre que me fizerem essa pergunta. Tambem ja conheci os dois tipos de pessoas: as que se adaptam e passam a valorizar aquilo que o novo pais tem para lhes oferecer e as que criam um genero de reaccao alergica e tudo no seu pais de origem e bom e melhor. Eu acho que estou algures no meio, mas tento estar no primeiro no grupo e aprender a valorizar outras coisas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Adorei o termo "reacção alérgica" - ehehe, é mesmo isso.
      Vivi poucos meses no UK faz alguns anos e gostei muito da experiência. Acho que me adaptei muito bem. A única coisa que de facto percebi rapidamente que por cá era nitidamente melhor foi a comida (e os preços :D). A nossa comida, mesmo que se tente confecionar por lá, não dá no mesmo. Fica «parecido» mas o sabor que o nosso paladar reconhece como familiar é aquele que vem da terra da gente.

      Eliminar
  8. E@ uma boa explicacao da vida por aí. Ainda ontem estava a falar com um amigo sobre a Suécia. Aparentemente eles cobram cerca de 60% do salário em impostos, daí o governo ter essa possibilidade de dar tantos benefícios também às familias, etc. Isso é mesmo assim a 60%? Imagino que não faca muito diferenca, porque como o nivel de alto é elevado, os salarios devem ser elevados o suficiente para que esse grande desconto não faz muita diferença. Claro que isso seria impossivel na situacao corrente em Portugal dado que os salários sao demasiado baixos, mas o que é que os Suecos dizem sobre os impostos? Estao conformados e habituados ou tambem se queixam?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Seja com salários baixos ou altos, 60% é sempre muita fruta!

      Eliminar
  9. Eu acho que a integração e adaptação a um novo país e a uma nova cultura, é uma questão muito pessoal. Para algumas pessoas isso não é difícil, para outras, como essa espanhola, é um martírio diário. Eu me sinto bem onde estou, me sinto adaptada aqui e sou feliz, primeiramente porque eu escolhi viver assim. Pra mim, martírio seria viver reclamando, independente de onde eu estivesse :-). Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo. Existe quem faça da vida uma prática constante de reclamações. É que algumas pessoas nem sabem ser diferentes, parece que foram "culturalmente" educadas para reclamar de tudo. E me perdoe quem discorda, mas acho que nós, portugueses, como povo, somos muito assim. Por vezes perdem muitas oportunidades de serem mais felizes ou de realmente experimentar o local onde estão porque se focam no negativismo e criticismo.

      Eliminar
  10. Continuo a achar que é um acto de coragem sair do país, seja por que motivo for. Há casos em que as pessoas têm essa ideia desde sempre, mas há outros, e esses entristecem-me de facto, que são quase "obrigadas" a faze-lo. Mas a vida é mesmo assim :).
    É sempre bom saber um pouquinho de como a vida é aí e que felizmente te adaptaste muito bem :)

    ResponderEliminar
  11. Melhor resposta que essa não há. Acho que todo expatriado sente-se assim. Sempre vai haver coisas maravilhosas no país que escolhemos para viver, mas ele nunca será como a nossa casa, pois nele falta o coracäo, as pessoas que mais amamos e peculiaridades que crescemos e entendemos de nossa cultura. Por outro lado os nossas países, no qual nos sentimos tão amados a apreciados talvez nunca trarão a qualidade de vida ou alguma outra coisa que no país atual vivemos. É sempre assim... Nada é perfeito!

    Espero que você esteja aproveitando seu verão.

    ResponderEliminar
  12. Gostei muito de ler este post, não conhecia o teu blog. Muito bom :) beijinhos

    ResponderEliminar
  13. Sim, gostei muito de ler o post :)
    Muito interessante!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  14. Amei esse post, Joana, você explicou tudo muito bem! Espero que você realmente faça muitos posts sobre o assunto, é muito interessante ler :)

    beijinhos!

    ResponderEliminar
  15. Eu gosto mesmo muito da minha mãe...

    ResponderEliminar
  16. Gostei muito e estou à espera dos próximos :)!

    ResponderEliminar
  17. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  18. Olá Joana.

    Sou seu mais novo seguidor.

    Cheguei até aqui através de amigos comuns.

    Foi muito bom ter encontrado seu blog ao qual voltarei sempre!

    Também, estou lhe convidando para conhecer alguns dos meus blogues cujas temáticas são humor, narrativas de vida e amor.

    Amor que transcende,enaltece, valoriza e encanta a vida de cada um de nós.


    Confira: e ficaria honrado com sua presença e quem sabe seguir-me:

    FALANDO SÉRIO.
    http://ptamburro.blogspot.com.br/

    FRAGMENTOS DO ACASO
    http://paulotamburrosexo.blogspot.com.br


    HUMOR EM TEXTOS
    http://paulotamburro.blogspot.com.br/


    Se quiser conhecer todos os meus blogs, basta clicar, no meu nome, neste comentário, lá em cima ao lado da chave que espero lhe abra todas as portas.

    Um abração carioca

    ResponderEliminar
  19. Ora bem, este deve ter sido dos melhores posts que li nos últimos tempos. :)

    ResponderEliminar
  20. Presumo que a resposta para essa segunda pergunta também funciona nos moldes da primeira. DEPENDE das expectativas, de se saber ou não falar a língua ou da formação ou sorte da pessoa. Certo?

    É sempre igual. Todos nós procuramos um "Paraíso" para viver. Um local onde consigamos ser sempre felizes, onde se trabalhe em troca de um bom ordenado e ainda dê tempo para alguma diversão e criar família despreocupadamente. Não conheço a suécia, não sei falar a língua e sei que existem algumas diferenças culturais, como seria de esperar. Iria gostar de experimentar. Tenho fascínio por paisagens com neve e uma vontade antiga de experimentar viver em locais "pintados" de neve. Se iria me adaptar não sei, só passando pela experiência é que uma pessoa realmente sabe, mas se a emigração surgisse como uma oportunidade atrativa sim, ia. Já vivi muito tempo onde estou, está na hora de mudar e ares! :D

    ResponderEliminar
  21. Eu não seria feliz na Suécia. Sou muito comunicativa, extrovertida, e chameguenta. Gosto de gargalhar alto, de abraços calorosos, e faço amizade até em fila de supermercado, sala de espera de consultório e por aí vai.
    Falo toda a minha cota de palavras por dia, e ainda falo dormindo hahaha
    Odeio a corrupção brasileira, e o jeitinho brasileiro, o que combato com todas as minhas forças. Mas não saio daqui por nada.
    Adorei o teu texto, muito elucidativo.

    bjs

    ResponderEliminar
  22. Gostei do modo como expuseste a situação ;)

    ResponderEliminar
  23. Gosto destes testemunhos (elucidativos e que exploram diferenças culturais), quero mais episódios desta série ^^

    ResponderEliminar
  24. Boa tarde. Conheci hoje o blog, mas está-me a ajudar bastante. Estamos a pensar em ir viver para aí. Problema: temos uma filha con uma alergia alimentar (proteína do.leite de vaca) e possivel asma. A nossa preocupação será a saúde. Existem minimos de meses a descontar para se ter as regalias no sistema de saúde? Os hospitais e os profissionais sao bons? Agora outra questão que se coloca, quanto gasta a vir a Portugal? Existe "vida" nos dias pequenos, escuros e frios? Ou é deprimente e vão todos para casa e dormem às 19h? Enfim, a adaptação foi difícil? Obrigada!

    ResponderEliminar