Este post aborda um assunto polémico e que me diz muito, muito, muito. Refiro-me a uma das grandes vergonhas nacionais de Portugal - as touradas. Encontrei o texto abaixo no Facebook e não resisti a partilhá-lo. Acho que ele diz tudo o que precisa de ser dito. Sinceramente, eu não poderia tê-lo escrito melhor. Apesar do assunto ser sério, este texto está escrito com um sentido de humor muito refinado. Vale a pena ler!
"O único argumento legítimo e verdadeiro que têm [os aficionados], é o de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito a participar. Ponto final porque acabam aí os argumentos válidos.
O sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a espectáculos de violência. Essa dos sangramentos para alívio dos humores foi uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente.
O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam de crianças; mas é uma maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus direitos.
Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados.
Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia. Aqui podemos cair na questão de comparar coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: é eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar dinheiro assim?
Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte em jeito de espectáculo. Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um espectáculo incorrecto e imoral.
Vi agora que ainda há mais uns pseudo-argumentos: comparar injecções ou vacinas com as bandarilhas. Parece uma brincadeira comparar uma agulha fina com o objectivo de tratar uma doença ou evitar outra - no caso das vacinas - com a introdução de 9cm em metal grosso, cujos 3cm finais são em forma de arpão para não sair e continuar a rasgar os músculos e os ligamentos durante a lide. Das duas, três: ou está a brincar, ou não usa o raciocínio ou quer enganar os outros.
Depois vem mais uma das bandeiras frequentemente agitadas: a da extinção do touro bravo. Como muitos dos que lutam contra a existência das touradas são pro-ambientalistas, este parece ser um argumento forte. Parece, mas obviamente não é. O que os ecologistas defendem é a não interferência nos ecossistemas porque há equilíbrios frágeis cuja totalidade das varáveis são
desconhecidas e as rupturas imprevisíveis. Não tem nada a ver com o touro bravo. A extinção do touro bravo teria o mesmo impacto ambiental que a extinção do caniche. Podemos lamentá-la, claro, por razões sentimentais, mas não afectam em nada os ecossistemas.
E se falamos de ambiente, as herdades onde se faz a criação extensiva de touros podiam dar lugar a montados de sobro e plantação de oliveiras. Temos um clima e um solo excelentes para a produção de azeite e cortiça e não somos autónomos na questão do azeite, o que nos traria ganhos financeiros e mais independência económica. Os toureiros, se quisessem reconverter-se, podiam ir para a apanha da azeitona com as suas calcinhas justas e a jaqueta de lantejoulas; não seria prático mas dava uma nota de cor aos campos nessa altura do ano."
Para mim, as touradas são uma barbaridade, tal como as lutas entre cães, ou entre galos...pobres dos animais irracionais que depedem de animais (pouco ou nada) racionais...
ResponderEliminarEu tenho esperança que as touradas sejam abolidas mais tarde ou mais cedo. Tal como outras barbaridades o foram. Felizmente há mais Portugueses que usam o seu sentido crítico (e se não o tiverem, podem sempre usar o coração) e que pensam como nós. Beijo
EliminarEstá tudo dito! Resta saber quando é que Portugal vai acordar...
ResponderEliminarNem mais, Anónimo, nem mais!
EliminarOlá Joana,
ResponderEliminarNão tenho estômago para assistir a uma tourada. Tento respeitar a máxima de que gosto não se discute, mas compreender a êxtase em ver um animal cruelmente morrer é muito pra mim.
Boa reflexão!
Abs
Márcia
Oi Márcia. Para se assistir a uma tourada, e desfrutar dela, é preciso um estômago muito grande e um coração muito pequeno. Fico feliz por saber que você, tal como eu, tem coração maior que estômago :D Beijo
EliminarParece piada, mas antes de morar na Espanha, a minha visão de Touradas era completamente diferente. Não tinha sangue, não tinha espada perfurando o touro ali à sangue frio, não tinha tortura. No Brasil, não dão muita ênfase às touradas nem nunca explicaram como de fato acontece... :P haha
ResponderEliminarQuando cheguei à Madrid, onde a tradição é muito forte, eu fiquei chocada e muito abalada, pois certa vez passando os canais na tv, parei em um de touradas. O quão inocente eu era? haha
Touradas nada mais são do que covardia no seu estado máximo. Tanto pra quem paga pra assistir quanto pra quem está por trás de todo o "espetáculo". É uma luta tão desigual, tão estúpida, tão cruel que além de me partir o coração pelo animal-touro, me faz ter um ódio imenso sobre os outros animais (que deveriam ser racionais). E ódio nem é bom, mas tento me controlar.
Não sonho com muitas coisas, mas dentre essas poucas, está o sonho de que um dia isso acabe!
Aryadne, às vezes mais vale ficar na ignorância, né? Eu sofro muito com as touradas (entre outros absurdos) pelos mesmos motivos que você... Por ter pena dos animais e por perder um pouco mais de fé nos seres humanos. Eu nunca conseguirei entender o porquê das touradas e no fundo sei que isso é porque não há uma explicação para elas. Fico feliz por existir gente como eu e como você. Beijo
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