sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ah, se eu soubesse escrever assim


Este post aborda um assunto polémico e que me diz muito, muito, muito. Refiro-me a uma das grandes vergonhas nacionais de Portugal -  as touradas. Encontrei o texto abaixo no Facebook e não resisti a partilhá-lo. Acho que ele diz tudo o que precisa de ser dito. Sinceramente, eu não poderia tê-lo escrito melhor. Apesar do assunto ser sério, este texto está escrito com um sentido de humor muito refinado. Vale a pena ler!

"O único argumento legítimo e verdadeiro que têm [os aficionados], é o de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito a participar. Ponto final porque acabam aí os argumentos válidos.


O sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a espectáculos de violência. Essa dos sangramentos para alívio dos humores foi uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente.

O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam de crianças; mas é uma maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus direitos. 

Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados.


Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia. 
Aqui podemos cair na questão de comparar coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: é eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar dinheiro assim?
Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte em jeito de espectáculo. Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um espectáculo incorrecto e imoral.


Vi agora que ainda há mais uns pseudo-argumentos: comparar injecções ou vacinas com as bandarilhas. Parece uma brincadeira comparar uma agulha fina com o objectivo de tratar uma doença ou evitar outra - no caso das vacinas - com a introdução de 9cm em metal grosso, cujos 3cm finais são em forma de arpão para não sair e continuar a rasgar os músculos e os ligamentos durante a lide. Das duas, três: ou está a brincar, ou não usa o raciocínio ou quer enganar os outros.

Depois vem mais uma das bandeiras frequentemente agitadas: a da extinção do touro bravo. Como muitos dos que lutam contra a existência das touradas são pro-ambientalistas, este parece ser um argumento forte. Parece, mas obviamente não é. O que os ecologistas defendem é a não interferência nos ecossistemas porque há equilíbrios frágeis cuja totalidade das varáveis são
desconhecidas e as rupturas imprevisíveis. Não tem nada a ver com o touro bravo. A extinção do touro bravo teria o mesmo impacto ambiental que a extinção do caniche. Podemos lamentá-la, claro, por razões sentimentais, mas não afectam em nada os ecossistemas. 


E se falamos de ambiente, as herdades onde se faz a criação extensiva de touros podiam dar lugar a montados de sobro e plantação de oliveiras. Temos um clima e um solo excelentes para a produção de azeite e cortiça e não somos autónomos na questão do azeite, o que nos traria ganhos financeiros e mais independência económica. Os toureiros, se quisessem reconverter-se, podiam ir para a apanha da azeitona com as suas calcinhas justas e a jaqueta de lantejoulas; não seria prático mas dava uma nota de cor aos campos nessa altura do ano."




8 comentários:

  1. Para mim, as touradas são uma barbaridade, tal como as lutas entre cães, ou entre galos...pobres dos animais irracionais que depedem de animais (pouco ou nada) racionais...

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    1. Eu tenho esperança que as touradas sejam abolidas mais tarde ou mais cedo. Tal como outras barbaridades o foram. Felizmente há mais Portugueses que usam o seu sentido crítico (e se não o tiverem, podem sempre usar o coração) e que pensam como nós. Beijo

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  2. Está tudo dito! Resta saber quando é que Portugal vai acordar...

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  3. Olá Joana,
    Não tenho estômago para assistir a uma tourada. Tento respeitar a máxima de que gosto não se discute, mas compreender a êxtase em ver um animal cruelmente morrer é muito pra mim.
    Boa reflexão!
    Abs
    Márcia

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    1. Oi Márcia. Para se assistir a uma tourada, e desfrutar dela, é preciso um estômago muito grande e um coração muito pequeno. Fico feliz por saber que você, tal como eu, tem coração maior que estômago :D Beijo

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  4. Parece piada, mas antes de morar na Espanha, a minha visão de Touradas era completamente diferente. Não tinha sangue, não tinha espada perfurando o touro ali à sangue frio, não tinha tortura. No Brasil, não dão muita ênfase às touradas nem nunca explicaram como de fato acontece... :P haha

    Quando cheguei à Madrid, onde a tradição é muito forte, eu fiquei chocada e muito abalada, pois certa vez passando os canais na tv, parei em um de touradas. O quão inocente eu era? haha
    Touradas nada mais são do que covardia no seu estado máximo. Tanto pra quem paga pra assistir quanto pra quem está por trás de todo o "espetáculo". É uma luta tão desigual, tão estúpida, tão cruel que além de me partir o coração pelo animal-touro, me faz ter um ódio imenso sobre os outros animais (que deveriam ser racionais). E ódio nem é bom, mas tento me controlar.

    Não sonho com muitas coisas, mas dentre essas poucas, está o sonho de que um dia isso acabe!

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    1. Aryadne, às vezes mais vale ficar na ignorância, né? Eu sofro muito com as touradas (entre outros absurdos) pelos mesmos motivos que você... Por ter pena dos animais e por perder um pouco mais de fé nos seres humanos. Eu nunca conseguirei entender o porquê das touradas e no fundo sei que isso é porque não há uma explicação para elas. Fico feliz por existir gente como eu e como você. Beijo

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